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Campanha Global de Educação para a Paz

A Campanha Global de Educação para a Paz, lançada em Haia em 1999, na firme convicção de que não haverá paz no mundo sem educação para a paz, possui dois objetivos básicos. Em primeiro lugar, criar reconhecimento público e suporte político para a introdução da Educação pela Paz em todas as esferas da educação, incluindo a educação não formal. Em segundo lugar, promover a formação de educadores para que possam implementar a educação para a paz. Neste sentido, a Campanha entende que a educação para a paz se concretiza especialmente através de pessoas capacitadas para tal, que são seus construtores e responsáveis diretos. Na realidade em que nos situamos, de conflitos e violência, a formação de educadores para a paz é uma contribuição para o patrimônio ético das comunidades onde vivemos, assegurando multiplicadores da cultura e educação para a paz.

Mas o que caracterizaria os educadores para a paz? Talvez uma resposta a esta pudesse começar a ser pensada através das três grandes áreas de atuação em vista da paz e de uma cultura de paz: a pesquisa, a ação e a educação para a paz. A pesquisa trabalha com a produção de conhecimento científico em vista da implementação de uma cultura de paz: neste sentido, o pesquisador para a paz busca a paz através da ciência. A ação pela paz situa-se mais num nível político: o ativista para a paz incide sobre os canais e práticas de uma sociedade, criticando determinados posicionamentos, propondo outros. Mas a paz necessita, além da ciência e da política, um outro instrumental: a educação. Esta trabalha mais com as referências que constituem uma sociedade: os valores que contam, os centros de interesse, os critérios de julgamento, enfim, aquele conjunto de referenciais que orientam as pessoas e grupos em suas opções e práticas. Desta maneira, o educador para a paz é aquele que ajuda as pessoas e suas organizações no nível da informações e valores.

            Uma das características da educação é sua intencionalidade. O educador é aquele que deseja intencionalmente agir e, por isso, organiza o processo educativo. Neste aspecto, o educador para a paz é alguém que possui uma intencionalidade: quer ajudar as pessoas a refletirem sobre a paz, a se posicionarem sobre esta temática, a despertarem para esta problemática. É claro que educação está sendo entendida aqui como mais além do ensino, abrangendo tanto o aspecto formal como o não-formal. Entende-se como educador, não apenas o professor, mas todas as pessoas que exercem uma atividade pedagógica intencional e organizada. Neste sentido, poderíamos elencar entre as intenções e propósitos da educação para a paz os seguintes itens:

a)    Criar referenciais não-violentos. Trata-se de ajudar as pessoas a se moverem no paradigma da cultura de paz, criando e organizando referenciais que se regulam por este mesmo paradigma, mudando a antigo ditado da paz (“se queres a paz, prepara-te para a guerra”) para “se queres a paz, prepara-te para a paz”.

b)    Fortalecer conexões comunitárias. Isto é, contribuir para inserir pessoas e grupos no quadro global da humanidade que caminha para a paz e fazendo repercutir para o seu cotidiano aquilo que é a busca das pessoas comprometidas com a paz no mundo.

c)    Formar consenso para a paz.A educação para a paz como um espaço de debate, diálogo e negociação para que a humanidade opere um consenso em torno da paz, como operou, por exemplo, em torno dos direitos humanos. Como muito bem afirmou Joddy Willians, Prêmio Nobel da Paz 1997 por seu trabalho para a eliminação das minas terrestres: “A paz já não é uma expressão da vontade dos poderosos, mas uma expressão da vontade coletiva de se viver em paz. Todos juntos somos uma superpotência!”.

d)    Capacitar pessoas para mudanças pela paz. As pessoas desejam a paz, mas na maioria das vezes, não sabem como contribuir para ela. Daí a necessidade de descobrirem seu poder para a paz – a paz não é apenas responsabilidade dos governantes ou da ONU – e os caminhos de sua contribuição, o que cada um pode concretamente fazer em seu ambiente.

e)    Promover justiça e o fim das desigualdades sociais. Mais do que ausência de guerra ou de violência, a paz é a presença de justiça, isto é do quadro onde as pessoas, individual e grupalmente, desenvolvem suas potencialidades somáticas e mentais.

f)     Oportunizar vivências plurais, para além dos preconceitos e estereótipos.A cultura de violência, como construção humana, se fundamenta nos preconceitos e estereótipos que produz. O reconhecimento e a crítica a ambos – e à sua força de falsear a realidade – constituem um passo importante para a solidariedade e cidadania mundial. Daí a necessidade das pessoas poderem fazer vivências de convivência na diversidade e na pluralidade.

g)    Instrumentalizar para a resolução não-violenta de conflitos. Tradicionalmente, o conflito costuma ser encarado como algo ruim e negativo. No entanto, o conflito não é, em absoluto, obstáculo a uma cultura de paz. Para construir uma cultura de paz é preciso mudar atitudes, crenças e comportamentos, até se tornar natural resolver os conflitos de modo não violento (por meio de acordos) e não de modo hostil.

h)   Ajudar a lidar com a agressividade. Há uma diferença entre agressividade e violência. A agressividade constitui-se a força vital de cada pessoa, necessária para superar os obstáculos e limitações do cotidiano. A sua ausência provoca passividade. O importante, então, é trabalhar esta energia de forma construtiva, diminuindo o potencial de agressão.

i)     Desenvolver uma crítica à cultura de violência. Trata-se de fortalecer uma atitude crítica a esta cultura de violência que nos é imposta, fornecendo instrumental para perceber como a violência e o militarismo atuam em diversos canais, como, por exemplo, nos meios de comunicação, brinquedos e jogos de guerra.

Três aspectos parecem constituir a identidade do educador para a paz. Em primeiro lugar, um educador para a paz é aquele que age metodologicamente numa unidade meios/fins, privilegiando o vivido sobre o enunciado. A pedagoga argentina Alicia Fernandez, em seu livro “A inteligência aprisionada”, traz o testemunho de uma estudante que denuncia sua professora dizer gritando que ela não deve gritar, negando na prática aquilo que é afirmado no discurso. O pacifista norte-americano Abraham Muste insistia em afirmar que “não existe caminhos para a paz, a paz é o caminho”, retomando a convicção gandhiana de que os meios são embriões dos fins e os fins estão embutindo nos meios.

Em segundo lugar, um educador para a paz é aquele anima/organiza/incentiva círculo de cultura de paz, agindo comunitariamente. Ele sabe que a paz é mais do que a soma de indivíduos em paz: que um indivíduo em paz mais outro indivíduo em paz não nos fornece uma comunidade em paz. E que, por essa razão, é necessário trabalhar comunitariamente. Nenhuma pessoa, atividade, ou nível da sociedade é capaz de planejar e transmitir a paz por si só. Tudo está vinculado, tudo se afeta mutuamente. A construção da paz apóia e fortalece as relações interdependentes necessárias para as mudanças desejadas.

Finalmente, um educador para a paz é aquele insere-se no grande movimento pela paz, participando ativamente de uma ou mais de suas áreas de atuação: cultura de paz, direitos humanos, resolução de conflitos, desarmamento e segurança humana. Ele tem a visão de conjunto e de cidadania, atuando articuladamente com as forças de mudança social. Sabe que para além das dimensões pessoais e comunitárias, é necessário também intervir no nível das políticas públicas. Tem consciência de que não basta apenas cada um fazer sua parte ou criar comunidades autênticas de paz, mas que se faz necessário incidir sobre o público, a fim de que possamos ter arranjos sociais que favoreçam as pessoas e as comunidades na linha de uma cultura de paz.

 

Apêndice 3: MODELO DE CARTA ÁS AUTORIDADES EDUCACIONAIS            

Solicite às autoridades de educação a inclusão da EDUCAÇÃO PARA A PAZ. Veja um modelo de carta que você pode enviar para uma autoridade na área de educação: ministro, secretário/a, professor/a, reitor/a, diretor/a, etc.

Prezado/Prezada Sr./Sra.

Escrevo para pedir-lhe a introdução da EDUCAÇÃO PARA A PAZ no currículo da nossa (escola, universidade, entidade). Diariamente, somos testemunhas de atos de violência: na tela da televisão, nas ruas, e muitas vezes em nossos lares e nas escolas. E tudo o que ouvimos nos noticiários são histórias de guerra e assassinatos. As lições de história nos ensinam toda uma série de guerras. Até os brinquedos e os jogos muitas vezes se destinam a estimular a apreciação derivada de atividades violentas “imaginárias”.

Para nós chega – nós queremos aprender a respeito da paz! Queremos saber sobre os modos de vida dos jovens de outras culturas, para que nos possamos entender melhor. Queremos descobrir maneiras de prestar assistência, de todas as maneiras possíveis, aos jovens que passaram por uma guerra. Talvez possamos organizar um intercâmbio com uma escola ou universidade em um país que está se recuperando de um conflito. Queremos aprender a respeito dos direitos humanos, os nossos direitos! Precisamos saber como lidar com a agressão e a violência que encaramos em nossas próprias vidas: como podemos entender as raízes dos conflitos? O que podemos fazer a respeito de quem gosta de abusar dos outros?  Como podemos ser mediadores/mediadoras num conflito que vemos estar ocorrendo entre amigos nossos?

Os anos de 2001-2010 foram declarados Década das Nações Unidas de uma Cultura para a Paz e a Não-Violência, para as Crianças do Mundo. Gostaríamos de ver nossa (escola/universidade/pátria) tomar parte na construção de uma cultura da paz, que é crucial para a sobrevivência das gerações futuras. Estudos relacionados com a paz, em todas as instituições educacionais, seriam obviamente uma contribuição maravilhosa para esse processo, e eu, como estudante, seria enormemente beneficiado/beneficiada com isso.

Entre as organizações que, em nosso país, trabalham com educação para a paz, encontra-se ______________________________________________________________, que pode fornecer maiores informações e assessoria sobre esta temática.

Espero de coração que aprecie a grande necessidade que existe por uma educação para a paz, numa época quando todas as pessoas, de uma maneira ou outra, estão sendo afetadas pela cultura da violência que nossa sociedade criou. E espero que venha a dar condições para que nossa (escola/universidade/entidade) possa desempenhar um papel de liderança no desenvolvimento de uma cultura da paz.

Atenciosamente,

Apêndice 4: APÓIE A CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PARA PAZ

Fundada em 1999, a CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ, lançada pelo Apelo de Haia pela Paz, é uma rede organizada internacionalmente que promove a educação para a paz nas escolas, famílias e comunidades para transformar a cultura da violência em uma cultura de paz. Mais de 140 organizações no mundo apóiam o CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ .

A CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PELA PAZ tem dois objetivos:

1) Criar reconhecimento público e suporte político para a introdução da Educação pela Paz em todas as esferas da educação, incluindo a educação não formal, em todas as escolas do mundo.

2) Promover a educação de professores para que possam ensinar pela paz.

Apelo de Haia pela Paz

A CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PELA PAZ foi lançada em Maio de 1999, na conferência do APELO DE HAIA PARA A PAZ, em Haia, na Holanda. Esta campanha congrega grupos que se concentram em Direitos Humanos, desarmamento, meio ambiente, direitos feministas e justiça social, trabalhando em direção da abolição das guerras agora no século 21.

A necessidade

A humanidade encara desafios de proporções sem precedentes: o desenvolvimento contínuo de armas de destruição de massa, conflitos entre nações e entre grupos étnicos, a propagação do racismo, a violência nas comunidades, a imensa e crescente lacuna entre pobres e ricos em uma economia globalizada, constantes violações dos Direitos Humanos e a degradação do meio ambiente.

Educação para a paz

Para estar preparada para solucionar este emaranhado de problemas, as novas gerações merecem uma educação radicalmente diferente. Os estudantes necessitam de habilidades e conhecimentos para criar e manter a paz. A Educação para a paz que necessitam inclui Direitos Humanos, desenvolvimento e educação ambiental. Segurança e assuntos de desarmamento, reconciliação, prevenção e resolução de conflitos, reconhecimento crítico da mídia, estudo do gênero, não violência e relações internacionais são todos parte de uma Educação para a paz. A metodologia da Educação para a paz encoraja o pensamento crítico e prepara os estudantes para agir de acordo com suas convicções.

Educação para a paz é um processo participativo que muda nosso jeito de pensar e promover o aprendizado da paz e da justiça. Inclui o ensino de e sobre direitos humanos, resposta não-violenta aos conflitos, justiça social e econômica, igualdade entre os gêneros, sustentabilidade ambiental, desarmamento e segurança humana.   A metodologia da Educação para a paz encoraja a reflexão, o pensamento crítico e se baseia em valores como dignidade, igualdade e respeito.  A Educação para a paz visa preparar estudantes para a participação na escola e na sociedade.

Nos últimos 45 anos, importantes trabalhos têm sido feitos: recomendações da UNESCO por uma educação para o entendimento internacional, para a paz, Direitos Humanos e liberdades fundamentais em 1974; plano de ação da UNESCO de 1994 por uma Educação pela Paz, Direitos Humanos e Democracia, proclamada por ministros de educação e assinada por mais de 144 países; e o firme crescimento nos números de cursos de Educação pela Paz oferecidos em escolas do mundo todo. Mas isso é apenas o começo.

Como a campanha funciona

A CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ é aberta para as iniciativas de indivíduos e grupos em todo o mundo. Os trabalhos da campanha são postos em prática em cada país, cada comunidade, por grupos que assumem este compromisso e se junto à campanha.

Estes ativistas da campanha organizam fóruns, escrevem cartas, circulam apelos, criam grupos de trabalho, formam delegados para encontrar com representantes dos governos e escrevem artigos para serem publicados. Eles usam cada técnica que possam pensar para construir um suporte para a Educação para a paz.

Adesão
Se você deseja sustentar a Campanha Global de Educação para a Paz, preencha o formulário abaixo e envie-o por correio ou por fax para :
Apelo de Haia pela Paz
c/o IWTC
777 UN Plaza, 3rd Floor New York,
NY 10017
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Fax: +1-212-661-2704

Sim, nós apoiamos a Campanha Global de Educação para a Paz do Apelo de Haia pela Paz.

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